10/29/2004

Cromos de Portugal - nº22

Cromo Nº 22
Alexandra Solnado

Profissão: Escritora de best-sellers pseudo-religiosos.
Idade: Desconhecida




Não nos podíamos esquecer de Alexandra Solnado. Esta senhora, ao que consta, fala com Jesus Cristo. Foi devido a algumas dificuldades no passado que a filha de Raúl Solnado se virou para o céu como sendo a derradeira esperança (que poético que eu estou hoje... ou então não...) para a resolução dos seus problemas.

Pois bem, as forças do Universo estiveram do seu lado. Alexandra abre, então, um consultório onde têm lugar regressões e conversas com o Eu superior dos seus clientes. Até que um dia, não fala com o Eu superior mas sim com... Deus.

E foi aí, a 28 de Março de 2002, que tudo começou, embora só tenha iniciado a tarefa de escrever as mensagens divinas em Setembro do mesmo ano. Segundo a autora, «É Ele quem dita as mensagens dos Livros, é Ele quem dita os Cursos, a forma como devem ser feitas as Limpezas Espirituais e toda a teoria utilizada neste projecto. É Ele quem diz o que deseja e como o deseja. Eu apenas sirvo de canal e tento que a Sua vontade seja materializada cá em baixo.» Claro que sim. Não, a sério, tudo bem.

Melhor que isso, só mesmo um excerto d' "Este Jesus Cristo Que Vos Fala":

« [...] ouvi uma voz. Era uma voz muito estranha. Era também uma voz extraordinariamente nítida. Era a voz de Jesus. Ele estava ali para me ajudar. Mas nunca me tinha falado assim, tão nitidamente:

Deus — Estás a ser parva.
A. S. — Estou a ser parva, porquê?
Deus — Mandei-te para o Brasil...
A. S. — Mas eu não posso ir. A minha mãe está doente, o meu pai está doente. [...]
Deus — Eu não perguntei se eles estão ou não doentes, estou é a dizer-te que tens de ir ao Brasil.»

É impressão minha, ou Jesus Cristo consegue ser bastante mal-educado e arrogante quando quer? Seja como for, tudo isto é muito bonito e está muito bem escrito, mas tenho que pedir desculpa por ocupar a maior parte deste 'Cromo' com palavras dele mesmo; mas há coisas que falam por si e, por muito que as tentassemos dizer de outra forma, não resultariam tão bem.

Espero ansiosamente por este Natal, já que é muito provável que Alexandra fale com o Pai Natal (previamente) e consiga publicar mais um livro sobre estas "vidas reais". Mas claro, guardando sempre o dinheiro para si. Sim, que isto de falar com Deus é muito bonito, mas uma pessoa tem a sua vidinha e ainda estamos no meio de uma crise económica.

Nunca mais é Sábado...

Finalmente, o fim. Semana difícil, esta - entre os bancos do anfiteatro, as filas da biblioteca ou a pilha de fotocópias para ler em casa. E, de uma ou de outra forma, a maioria de vocês sentirá com certeza o mesmo. O que apetece é voltar logo para casa mal o dia acabe, para dar logo início à jornada de descanso (esta semana, ainda por cima, prolongada) que se aproxima. Numa viagem sem sobressaltos, de preferência, talvez num transporte público.

Suponhamos que vão de metro: de início a viagem é banal. Até ao momento em que, qual perturbadora da paz alheia, eis uma vendedora da revista CAIS (Circuito de Apoio e Integração aos Sem-abrigo, se a memória não me falha) na vossa carruagem. E já sabem o que vai acontecer, por isso aguardam pacientemente que ela passe por vocês, enquanto olham "distraidamente" pela janela ou para os próprios sapatos. Até que têm, mesmo à frente do nariz, uma revista.

Vendedora: Revista CAIS, a última edição da CAIS, só 2€...

Ora, no meu caso, eu não tinha dinheiro. Confesso que se tivesse também não teria intenções de o dar, mas isso agora não interessa. Disse-lhe a verdade, de qualquer dos modos.

Vendedora: Nem 1€? Nêm 80 cêntimos?
Eu: Não...
Vendedora: Nem 60 cêntimos? Nem 50? Nem um cafezinho para a CAIS?


Confesso que esta última parte foi um bocado hilariante. Mesmo assim, face à situação, não foi muito difícil escondê-lo, até porque não tive muito tempo.

Vendedora: BOLAS!!... - afasta-se, em passo acelerado

Bem, eu até acho que actividades como a desenvolvida pela CAIS são louváveis, mas talvez convenha disciplinar um pouco os vendedores. E acalmá-los, também. Um Valium ou dois nunca fizeram mal a ninguém. Nem umas aulitas de ioga grátis, por exemplo. Não? OK.