11/05/2004

Cromos de Portugal - nº20

Cromo Nº 20
Paula Bobone

Profissão: Escritora de best-sellers sobre boas maneiras
Idade: Desconhecida
Frase: "Eu sei muito bem o que é o povo... Eu sou uma pessoa fina!"


Paula Bobone (Tia Bóbó para os indivíduos da sua classe social) é um ícone incontornável das regras de etiqueta em Portugal. É também especialista em imagem, protocolo empresarial e cerimonial de casamentos, dá conferências, é consultora, cronista e promove cursos na Internet. Para além disso, é ainda escritora de best-sellers como “Socialmente Correcto”, “Socialíssimo” ou até “Profissionalmente Correcto”.

Bobone é uma daquelas personagens que se julgam superiores aos outros e com autoridade moral para ensinar a saber estar. Mas não é. Uma pessoa que, com dois cursos superiores, num questionário de um jornal, à pergunta “Qual o seu pássaro preferido?” responde “a borboleta”, não pode ser superior (muito menos intelectualmente) a um agricultor que nunca teve oportunidade de frequentar o sistema de ensino.

Mas os exemplos não se ficam por aqui. Numa entrevista concedida, há já largos meses, à TV 7 Dias (esse grande exemplo de imprensa escrita de qualidade no nosso país), Paula terá afirmado, em relação ao programa Big Brother e aos seus concorrentes, que “não rejeito a hipótese de lerem em voz alta todos os livros que escrevi. Tanto aprendiam os concorrentes como o resto dos portugueses que assistem ao programa”. Uma grande ideia que só revela a grande modéstia que caracteriza esta senhora.

No entanto, a sua afirmação mais controversa teve origem no programa semanal de Herman José, num diálogo com o próprio: “a Pastelaria Suiça, no Rossio, deixou de ser um sítio in porque há lá muita gente de cor”. Para além disso, disse ainda que “os sem-abrigo deviam assumir a sua condição”. Acho que não é necessário comentar.

Resta saber porque é que há milhares de pessoas a comprar um livro de alguém que tem estas ideias. É que, na minha opinião, a semelhança entre ‘escritoras’ como Paula Bobone e um qualquer pirómano são evidentes: ambos destroem as nossas florestas, para nosso prejuízo. Por favor, devolvam-nos as árvores. Elas sim, são ‘socialmente correctas’.

E, como diria o jornalista Joel Neto acerca do assunto dos livros desta senhora, “a minha etiqueta é a minha consciência. Quem não tem consciência suficiente para definir a sua própria etiqueta não precisa de um livro de etiqueta: precisa de uma vida própria.